tag:blogger.com,1999:blog-90565145256657452122024-02-20T10:04:13.486-08:00Livro de Contos Inacabados, e algumas divagações (segunda parte)I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.comBlogger86125tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-26632082558636013102012-03-06T13:59:00.003-08:002012-03-06T14:25:41.271-08:00AméliaAmélia deixaste na minha vida um buraco do lado esquerdo do peito que não me deixa respirar. E eu tento, mas o sufoco aperta.<br />Ainda que tenhas partido feliz o que deixaste para traz foi um legado de vidas perdidas que tentam desesperadamente encontrar um mundo onde encaixar o sofrer eterno de almas desnorteadas.<br />Os nossos filhos não dormem à meses, as lagrimas não lhes deixam os pequenos olhos. O cão já não salta de alegria na previsão de um passeio ao jardim. E quando partiste levaste contigo a primavera e o verão abrasador deixando-nos à merce de um mundo sem flores.<br />Amélia quem me dera encontrar-te de novo por entre a poesia das musicas que nos cantavas ao fim do dia, que despertavam os pássaros antes do dormir.<br />Amélia, quem me dera estar contigo.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-54803622733692780852011-09-28T05:12:00.000-07:002011-09-28T05:14:09.631-07:00Carolina INão havia dia em que não a quisesse ver, nem que fosse só pelo seu milenar sorriso. O calor dos dois corpos não se sincronizaria nunca, ele era frio quando ela era da temperatura do verão e, quando o verão lhe chegava, ela era branca como a neve. As suas bocas não se encontrariam nunca no mesmo momento, quando uma se abria a outra fechava-se mastigando palavras. Os seus olhos não se conheceriam nunca na mesma paisagem, quando uns vislumbravam Paris, o outro par voava solto sobre as dunas de um deserto qualquer. E ela só existia no tempo que ele lhe imprestara, que ele imaginara, no lugar onde se encontraram pela primeira vez.<br /><br />Ela nunca o tinha visto fora daquele espaço, nunca lhe tinha sentido o cheiro para alem daquele dia, e sabia que se o abordasse ele não a conseguiria ver.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-91007800490256829522011-08-24T10:40:00.000-07:002011-08-24T10:53:51.202-07:00O barcoProcurava-a incessantemente todo o dia, mesmo sabendo que nunca poderia ser dele. Depois daquela noite tudo deixou de ser da forma que tinha sido. Finalmente perdera o medo, com a ajuda de meia dúzia de cervejas, e confiante, falou-lhe curioso por saber o motivo de tantos olhares perdidos no vão das escadas. Carolina, era assim que a chamavam, dissera-lhe ao ouvido. David, mas ela já sabia. Partilhou-lhe que ainda não sabia bem o que queria da vida, ele ainda que sabendo não lho podia dizer, por isso deixou-se ficar no mesmo barco que ela. Ele gostou da mistura entre os seus olhos verdes e os cabelos vermelhos, ela gostou da voz com que ele a agarrava. Nunca entraram em detalhes do que os levara áquele sítio, áquela hora, mas ficaram felizes por saber que hexistia um tempo para eles, ainda que incertos de um espaço. As horas avançavam por entre o som das musicas antigas daquele barco. Ele investia enquato ela recuava, depois ela investia e ele fazia-se difícil. A dança era ali, e o ali era uma desculpa, pois se fosse noutro lugar perdiam tudo o que tinham. Ele queria vêla todos os dias, e via, mas embora ela sorrisse ele nunca sabia se era na sua direcção.
<br />Ela procurava-o incessantemente, mas tudo o que ele fazia era sorrir.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-47678562751110777552011-06-29T09:49:00.000-07:002011-06-29T09:55:27.517-07:00Calista belisárioNuma rua qualquer de Lisboa o senhor perdido ia tacteando os grãos de tinta da parede. Com as calças feitas num farrapo, os sapatos com um furo em cada dedão, e os atacadores com dois centímetros de comprimento avançava lento sentindo as pedras da calçada na sola dos pés.<br />Perdera-se faz muito tempo entre os labirintos infinitos da sua mente, enquanto tentava encontrar lógica na morte.<br />Trazia sempre como que um animal de estimação, amarrado na cintura, o seu carrinho de compras que um dia roubara numa cadeia de mercado moribunda. Dentro do carro tinha toda a sua vida, um album de recordações onde guardava, com todas as suas forças, as lembranças da sua infância e do que outrora chamou de família. Os seus três filhos, a sua falecida mulher e todos aqueles momentos em que se lhe pôde ver um sorriso no canto dos lábios.<br />Trazia também, um estimado colchão, uma almofada feita de farrapos que por vezes usava para se lavar, e a telefonia que já não tocava faz dez anos, e se mantinha sintonizada na estação onde todos os dias ouvia as canções que o embalavam no pequeno almoço.<br />O carro já ia na sua quarta revisão, cada uma requeria troca integral de rolamentos, desempanamento do eixo da frente e um novo estofo para o volante.<br />As suas pernas já não eram como d'antes e por vezes deixava-se dormir, debaixo de uma ombreira de porta ou de um parapeito de escada, até ter genica para se pôr de pé. <br />O ritual das manhãs era sempre o mesmo, dobrar o colchão e a almofada juntos, retirar o garrafão, que utilizava para lavar as mãos e a cara, do carro e prende-lo entre os joelhos enquanto entornava a água nas mãos em forma de concha e as levava, com delicadeza, às faces, retirar um pedaço de pão do saco, com alguma sorte um iogurte que conseguira no dia anterior, e levar à boca para enganar a fome, repor todos os items meticulosamente no carro e lançar-se na aventura da imensa Lisboa.<br />Tinha um trabalho sujo, que lhe ocupava maior parte do dia, encontrar e recolher corações partidos das ruas da cidade, trabalho que fazia com gosto e apresso, nunca se negando, ainda que por vezes o corpo o não deixasse, a baixar-se e esgueirar o braço para dentro de uma sarjeta onde a maior parte dos cacos iam parar. Normalmente encontrava-os sozinhos, partidos ou arrancados por uma das partes, alguns até com buracos ou espicaçados, por vezes conseguia encontra-los aos pares, mas era raro, mais raro era encontrar as duas metades do mesmo coração no mesmo dia, acontecera-lhe uma vez.<br />Por habito recolhia-os para dentro de um saco de serapilheira, que atava no fim do dia com uma corda. No dia seguinte, logo pela alvorada, transportava-os para o "Centro de recuperação de corações partidos" onde os deixava ao cuidado de uma amiga que conhecera no dia em que tentou encontrar a logica na morte.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-28733645616323897642011-06-21T07:26:00.001-07:002011-06-21T07:50:32.697-07:00Nas asas d'uma moscaNunca conseguia manter nada organizado na sua cabeça e perdia-se varias vezes durante o dia no zumbir tosco de uma mosca. A sua casa era meticulosamente arrumada por uma empregada de limpeza à qual ele pagava com favores carnais, ela não se importava, e ele aprendera a usar-se como moeda de troca desde miúdo. No trabalho mantinha toneladas de folhas espalhadas pela secretária rodeando a maquina de escrever que disparava letras com precisão milimétrica contra o papel arremessando-o contra a parede. Não usava virgulas e os pontos finais eram escassos pois nunca sabia como acabar um texto. Quem lesse as suas paginas dava em louco ao tentar organizar as frases soltas e sem nexo, que só se compreendiam aquando de uma transfusão de cerebro. Na boate ora pedia scotch, ora bebia uma cerveja sem álcool, como de seguida vazava um bagaço velho. Nunca aprendera a fazer listas, faltou a essa classe, ou melhor na escola estar nas aulas era o mesmo que escrever nas mesas e não prestar atenção ao que era dito. Um dia perdeu-se na sua propria cidade e, sem saber onde estava, deambulou até à exaustão. Até hoje não encontrou o caminho para casa, e vai errando, perdido entre as distracções do dia-a-dia. Não sabe o proprio nome, pois perdeu a atenção nos dos outros, da sua cara já não se lembra pois um reflexo é uma dimensão paralela e indefinida, perdeu a carteira, e a noção do tempo baralha-se com o brilhar da lua e o sol.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-46907124249564161222011-06-15T09:52:00.000-07:002011-06-16T10:41:03.838-07:00Cuspir em frenteNum daqueles dias em que a chuva forçava demasiado a barricada, a barragem deu de si de encontro aos dentes dos menos providos. Com sorte alguns souberam quando saltar do barco, e viveram para contar a historia. Os outros, bem os outros perderam-se entre as farpas afiadas da madeira, os pedregulhos do betão e os pedaços de corpos.<br />Quando chove assim deve-se sair à rua com a armadura de ferro, ainda assim com cuidado para não enferrujar.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-88323308904531756712011-06-13T15:32:00.000-07:002011-06-13T16:10:47.758-07:00Imaginarium IEra uma vez um menino, que como todos os meninos, era pequenino. <br />Certo dia enquanto brincava com os bonecos velhos e viciados da sua infância deparou-se sentado a olhar para o outro lado da grande vedação do seu jardim. Do outro lado haviam muitos outros meninos e meninas, que brincavam a jogos de imaginar, sem bonecos, nem carros, nem caminhos viciados, e então deu por si a pensar. <br />"Porque é que aqueles palermas estão a brincar com as mãos no ar, aos saltos e aos pulos, sem brinquedos de verdade?" não percebia.<br />Voltou-se a brincar com os seus brinquedos de brincar, no mesmo girar e girar.<br />Numa outra altura veio a embater, na sua vedação, um dos meninos, e ele apressou-se a perguntar. <br />"Porque é que estão a brincar sem brinquedos de verdade?"<br />"Isto são brinquedos de verdade, ora essa!" respondeu o outro. <br />"Se são de verdade porque é que eu não os consigo ver?"<br />"Tens de semi serrar os olhos, e pensar com muita força, para isso acontecer."<br />O menino pequenino não percebeu nada do que o outro lhe tinha dito, ainda assim abanou com a cabeça.<br />No dia seguinte, na hora de brincar, juntou a cara à vedação e olhou para os outros meninos a imaginar, cerrou os olhos com muita força que quase não via nada, e não viu mesmo nada. Chateou-se e foi brincar, com os seus brinquedos de verdade.<br />À noite não conseguiu dormir a pensar com muita força.<br />No dia seguinte, depois de estudar, foi para o jardim tentar brincar mas não conseguiu, os bonecos estavam a ficar velhos e já não faziam nada de novo, seguiam sempre no mesmo caminho.<br />Aborrecido sentou-se junto da cerca a ver os outros meninos a fazer o jogo de imaginar.<br />"Que tolos" pensou ele.<br />"Como é que conseguem ver com o que é que estão a brincar se não têm nada nas mãos?"<br />Então, irritado, cerrou de novo os olhos com muita muita força e começou a pensar. Subitamente como que por magia pareceu-lhe ver uma imaginação, e abriu a boca incredulo. Mas no momento seguinte desapareceu.<br />"Acabou o tempo, volta pra dentro" Ordenaram-lhe, e ele com muita pouca vontade lá foi.<br />Passou os seguintes três dias enfiado com a cara na vedação, olhos semi cerrados e a pensar com toda a sua força, até conseguir ver com toda a certeza as imaginações dos outros meninos.<br />Foi então que pensou imaginar brinquedos como os deles, para poder brincar no seu parque de verdade.<br />Cerrou os olhos e pensou. Nada. Cerrou com mais força e pensou ainda mais. Nada. Não se deixou vencer e fechou ainda mais os olhos e pensou ainda com mais firmeza. Mas não viu nada.<br />"Porque é que não consigo brincar com brinquedos de imaginar?" pensou com uma tremenda frustração.<br />Então realizou que, provavelmente, seria por não ter com quem imaginar.<br />...I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-83293671614925155052011-03-04T08:00:00.000-08:002011-03-04T08:40:50.092-08:00"Quem está livre, livre está..." <meta equiv="Content-Style-Type" content="text/css"> <title></title> <meta name="Generator" content="Cocoa HTML Writer"> <meta name="CocoaVersion" content="1038.35"> <style type="text/css"> p.p1 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; line-height: 20.0px; font: 16.0px 'Marker Felt'} p.p2 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; line-height: 20.0px; font: 16.0px 'Marker Felt'; min-height: 17.0px} </style> <p class="p1"></p><p class="p1"><meta charset="utf-8"></p><p class="p1" style="margin-top: 0px; margin-right: 0px; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; line-height: 20px; font: normal normal normal 16px/normal 'Marker Felt'; "><meta name="Title" content=""> <meta name="Keywords" content=""> <meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"> <meta name="ProgId" content="Word.Document"> <meta name="Generator" content="Microsoft Word 2008"> <meta name="Originator" content="Microsoft Word 2008"> <link rel="File-List" href="file://localhost/Users/diogoalves/Library/Caches/TemporaryItems/msoclip/0clip_filelist.xml"> <!--[if gte mso 9]><xml> <o:documentproperties> <o:template>Normal.dotm</o:Template> <o:revision>0</o:Revision> <o:totaltime>0</o:TotalTime> <o:pages>1</o:Pages> <o:words>185</o:Words> <o:characters>1057</o:Characters> <o:company>Bes Arte & Finança</o:Company> <o:lines>8</o:Lines> <o:paragraphs>2</o:Paragraphs> <o:characterswithspaces>1298</o:CharactersWithSpaces> <o:version>12.0</o:Version> </o:DocumentProperties> <o:officedocumentsettings> <o:allowpng/> </o:OfficeDocumentSettings> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves>false</w:TrackMoves> <w:trackformatting/> <w:punctuationkerning/> <w:drawinggridhorizontalspacing>18 pt</w:DrawingGridHorizontalSpacing> <w:drawinggridverticalspacing>18 pt</w:DrawingGridVerticalSpacing> <w:displayhorizontaldrawinggridevery>0</w:DisplayHorizontalDrawingGridEvery> <w:displayverticaldrawinggridevery>0</w:DisplayVerticalDrawingGridEvery> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:dontgrowautofit/> <w:dontautofitconstrainedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> </w:Compatibility> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="276"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--> <style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:Times; 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Cuspidos pra fora da roda por estarmos um pouco a mais, por sermos um pouco de mais. E quando ninguém nos quis vimo-nos na obrigação de cuidarmos os calores do corpo que não se esquentam com tochas nem labaredas.</span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">Todos sabemos que a abundância de escolha tolda a visão e estorva o pensamento, por isso temos a vida facilitada, pelo menos ate que alguém salte roda fora. Achas que alguém salta?<o:p></o:p></span></p><p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">
<br /></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; "><o:p> </o:p></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">Há dias que não sei que língua falar contigo, dias em que o português não te chega aos ouvidos, que, por mais que tente tu percebes as coisas todas ao contrário. Há outros em que não suporto sequer o facto de me deixar pensar em ti, vou-te boicotando por entre fileiras de pensamentos em que me refugio, camuflado, e tapo os olhos a tudo o que me leve aí.<o:p></o:p></span></p><p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">
<br /></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; "><o:p> </o:p></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">O pior é quando depois do casamento de ideias e valores queres saltar a cerca para o outro lado, só pra ver se já alguém tombou de cu durante aquela dança circular, para que o possas levantar e limpar-lhe os farrapos enquanto julgas recuperar a juventude que já lá vai. Mesmo que alguém tenha caído, julgas mesmo que vão querer olhar para o fantasma de uma vida? Nem que vistas os melhores cetins.<o:p></o:p></span></p><p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">
<br /></span></p><p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; ">
<br /></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; "><o:p> </o:p></span></p> <p class="p1"><span style="font-family: Verdana; color: black; "><span class="Apple-style-span">E agora, achas que já alguém saltou?</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:13.0pt;mso-bidi-font-size:12.0pt; font-family:Verdana"><o:p> </o:p></span></p> <!--EndFragment--><p></p><p></p><p></p>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-54038539041954108652011-02-09T02:05:00.000-08:002011-02-09T08:57:49.559-08:00Dia dos namorados<span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Queres namorar comigo?<div><i>Oh não, esta pergunta outra vez... para quê perguntar se já sabes a resposta?</i></div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Acredito na persistência, mas já agora porque não mesmo?</div><div><i>Já te disse, gosto demasiado de mim para namorar contigo.</i></div><div><i><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>E depois?</i></div><div><i>Depois se namorar contigo perco o interesse, ou anulo um dos dois, e não queremos isso pois não?</i></div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Se calhar não.</div><div><i>És demasiado importante para te perder e ainda agora comecei a gostar de ti, eu já te disse como é difícil apaixonar-me.</i></div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>É.</div><div><i>Para alem do mais preciso de me soltar da outra, e sem que isso aconteça não me posso prender a mais ninguém, muito menos deixar que alguém se prenda a mim.</i></div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>E se eu me quiser prender a ti?</div><div><i>Azar o teu, vais ter que te aguentar á minha impossibilidade...</i></div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Acho que posso com isso.</div><div><i>Eu acho que não podes, mas se quiseres tentar é a tua cabeça que fica no cepo. Dá-me tempo.</i></div><div>.</div><div>.</div><div>.</div><div><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>E agora, queres namorar comigo?</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-6526964265455168902011-02-06T13:56:00.000-08:002011-02-06T14:27:11.517-08:00Três divisõesDescendo os fios pintados do teu cabelo, <div>escorrem as palmas das mãos </div><div>que nem o licor que se amordaça</div><div>às paredes quentes da língua.</div><div><br /></div><div>A fina ponta dos dedos </div><div>se te desenha na pele,</div><div>por cima dos traços do teu perfil, </div><div>um quadro invisível.</div><div><br /></div><div>Na tela despem-se corpos</div><div>com as discórdias do pincel,</div><div>a carne nua solta nitrogénio em pó </div><div>fundido no céu.</div><div><br /></div><div>No arrebitar dos seios </div><div>prendem-se verdades cuspidas,</div><div>escondidas da luz do dia,</div><div>esgravatadas na falta da noite.</div><div><br /></div><div>O tímido abanar de ancas </div><div>mostra caminhos vedados a medo </div><div>que se abrem com palavras míticas,</div><div>e se fecham com o olhar.</div><div><br /></div><div>Desce a água que se adivinha </div><div>no roçar das pernas </div><div>p'lo inicio do fim dos dedos</div><div>enquanto se descobrem nos lençóis</div><div>pés agrafados no colchão </div><div>depois de um trilho de sulcos.</div><div><br /></div><div>Neles vais tu, eu sigo.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-89455953229036724212011-01-26T02:16:00.000-08:002011-01-26T08:29:35.694-08:00EternoÉ sempre tão efémero,<div><br /></div><div>o tempo que te penteia os cabelos,</div><div>as tardes mortas no sofá,</div><div>a manta por cima do aquecedor</div><div>e o quente no fundo da pipa.</div><div><br /></div><div>a mão quieta dentro do bolso</div><div>a agarrar no bilhete de metro,</div><div>e o caminho para tua casa</div><div>que passa por todas as linhas.</div><div><br /></div><div>as faíscas no topo do eléctrico</div><div>no final da tarde fria,</div><div>o cachecol envolto ao pescoço</div><div>os solavancos frenéticos dos carris.</div><div><br /></div><div>o sabor da pastilha nos dentes</div><div>antes de te beijar a boca,</div><div>e o formigueiro nas pernas</div><div>quando te vejo ao chegar.</div><div><br /></div><div>o olhar que deitas sobre mim</div><div>quando os nossos corpos não se levantam,</div><div>e a tua voz do outro lado do telefone</div><div>que me deixa esvaída em sangue.</div><div><br /></div><div>o sentir que posso sentir-te</div><div>eternamente dentro de mim,</div><div>e que, para tudo o que venha</div><div>estás de pedra e cal.</div><div><br /></div><div>o hoje da chuva</div><div>o amanhã do sol,</div><div>e o nevoeiro dos entretantos</div><div>que toldam a visão algemada.</div><div><br /></div><div>e é sempre tão eterno.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-57160996674955136992011-01-25T01:58:00.000-08:002011-01-25T02:32:11.696-08:00Tinta da ChinaÉ ao descer na tinta que envolve<br />o cetim doce da tua pele,<br />ao contornar os traços inacabados<br />com a ponta da língua,<br />que me sobe à cabeça<br />e à ponta dos dedos<br />a estatica força de te jogar<br />o corpo contra a parede.<br /><br />De te prender as mãos<br />em volta do pescoço<br />e te rasgar os labios<br />com o afiado prazer<br />no gume dos dentes.<br /><br />Com as unhas cravar-te<br />pedaços de carne,<br />no meio da seda áspera dos lençóis,<br />a retalhar-te pedaços do passado<br />enquanto os teus olhos dançam<br />dentro das órbitas em torno do sol.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-44740320616036730292011-01-13T13:20:00.000-08:002011-01-13T13:27:45.545-08:00MárciaHoje quero não gostar de ti, desligar aquele botão onde tropeçaste sem querer e acendeu a luz do quadro. Não ter que me preocupar se á noite a colcha não foge do teu corpo frágil de criança, ou se estas sozinha na cama. Quero não saber de ti, ou se pensas em mim com a mesma intensidade e constância. Quero fugir livre e nua pisando os fetos partidos no chão, sentir o frio das pedras a rasgar-me a sola dos pés enquanto tu estas longe daqui. Boicotar-te dentro de mim para que não saias ca pra fora, fechar a porta as tuas lamurias e birras feias que te toldam os olhos e te avemelham o nariz. Cortar-te a mão que me agarrou pela primeira vez por entre as pernas e me fez soar de prazer, e morder-te os dedos que entraram dentro de mim até conseguir sentir a minha boca vermelha. Hoje não quero ser tua, nem que tu te atrevas a telefonar-me com facas na língua. Hoje quero dormir ate fazer doer os olhos, e acordar num depois de amanha onde tu estas, quieta, pequena e nova pra mim. E quero que voltes a ser eu enquanto adormeci. Hoje quero não voltar a tropeçar no botão que apagou a luz e nos deixou ás avessas no escuro.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-42393473634445890492010-12-29T09:45:00.000-08:002010-12-30T04:55:02.370-08:00Perdia sempre a mesma coisa<meta charset="utf-8">Servia a noite toda e conhecia todas as texturas de todas as garrafas, podia até aceitar pedidos de olhos fechados. O espaço que o separava das bebidas e dos outros era pouco maior que um passo e, já os tinha dado a todos. Durante todo o espaço de tempo entre o entrar e o sair esperava ansiosamente por um único momento, entre esse momento e todos os restantes enchia copos e copos, juntava bebida com bebida e aturava os balbucios desajeitados pela pinga de meia dúzia. Amigos poucos tinha, os quais de quando em quando apareciam lançando abraços, gritos e foguetes para o ar, ele sorria, podia até oferecer-lhes um copo mas eles nunca tardavam em sair. Não ambicionara trabalhar ali, foi o acaso que lhe deitou as mãos e enfiou naquela noite, naquele sitio durante anos. O tal momento acontecia todos os dias durante as ultimas três semanas. Entre as duas e meia e as quatro os seus olhos não descolavam daquele vulto singular, estravagante e impertinente de cabelos curtos e encaracolados, e era quando se aproximava, depois de arrombar a porta com os punhos, do balcão que deixava de prestar atenção a tudo e todos os outros. Atirava os cotovelos por cima do mármore e pedia sempre o mesmo, sempre com a mesma pausa no olhar e na voz e aguardava sempre com o mesmo rasgado sorrir, nunca percebera se o sorriso vinha na sua direcção, tal como nunca tivera coragem de lhe perguntar o nome, mas, pintava-o na sua cabeça a tinta da china.<div>Quando se soltava descia de encontro a casa por meio escombros, garrafas partidas, corpos aos caídos, e nunca, nunca se cruzava com aquela silhueta.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-44678605191055193752010-12-29T08:40:00.001-08:002010-12-29T09:25:34.473-08:00Loop<div>"Nem por isso..." destronou assim a conversa.</div><div><br /></div><div>Tinham sido duas crianças, e tinham crescido e deixado de ser duas crianças para passarem a ser uma criança grande. Ele era baixo, ela era alta, ele gordo, ela esguia, os olhos dele eram verdes, os dela castanhos, as feições dele eram brutas, ela tinha feições de princesa da disney, o humor dele mudava com o tempo, ela tinha humor sólido, ele gostava de levar, ela gostava de lhe bater, ele nunca chorara, ela ensopava a almofada todas as noites, ele queria ser outra pessoa, ela queria que ele fosse outra pessoa, depois do banho ele secava-se ao vento, ela usava toalha, ele nunca bebeu nem fumou, ela era viciada em tabaco e embebedava-se sempre que podia, os amigos dele não eram amigos dela, os amigos dela não queriam ser amigos dele, quando ele se vinha gritava <i>foda-se</i>, quando ela se vinha arrancava-lhe pele das costas, ele gostava de ser mais novo, ela parecia sempre mais nova, ele nunca falou, ela calava-se.</div><div><br /></div><div>"Gostas de mim?" perguntou-lhe</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-33805528843878836122010-12-27T13:31:00.000-08:002010-12-28T02:24:47.145-08:00DispensaShe was holding herself down in a horizontal position, the wind laid his soft hands against her hair shoving it into the voidless air. Her hands, tied to those brick ropes she held on for so long it grew the green smell of moss, were reddish as a dying rose. The thin, white and cold feet, stepped upon the buildings side, feeling the thick windows of someones glass, were mistreated as a rubbish waste. She couldn't let go.<div>
<br /></div><div>Solta-te menina, larga as amarras que te agarram à fachada velha dessa casa, dela só restam ruinas. Larga à confiança dos meus braços, e deixa-te cair dai de cima. Manda fora a esperança de desconstrução passiva dessa moradia antiga, ele não volta para reacender com uma pinha a lareira caiada. Atira-te dentro de mim, para dentro de mim e desiste dessa altura espevitada e da postura altiva e majestosa. Ele sabe.</div><div>Sobe e desenlaça as cordas que prendeste ao topo da chaminé, vem para minha casa enlaça-as no regaço quente. De lá não saias até que o teu corpo recupere das pancadas que te deram de borla. Sem que pedisses foram-se ajuntando nódoas negras à volta dos teus braços, dos teus punhos, e sem que visses foram-se enrolando punhos em volta do teu pescoço que te abafaram o respirar. Tu sabes.</div><div>Dentro da quente manta, e da luz apagada, junta-te comigo e procura o brilho no novo céu, encontra constelações sem sentido e significa-as. Mostra-me o que não sei para que lhe entorne o olhar e descanse o queixo. Leva-me e lava-me, seca-me no manto da tua pele e enxota-me as moscas e as traças de cima. Eu sei.</div><meta charset="utf-8">I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-29914714341531760302010-12-15T07:31:00.000-08:002010-12-21T07:13:28.995-08:00Conto de Maria I<meta charset="utf-8"><div><meta charset="utf-8">Era tão efémero quanto o escassear das horas, o entrar no bar e, depois de quatro copos de scotch, encontrar alguém com quem passar o resto da noite. Ainda que isso não significasse o final previsível no fundo dos lençóis, sabia-lhe bem saborear uma boca nova todos os serões. Estudava as mulheres como quem estuda para um exame de final de curso, e conhecia os cantos e recantos dessa bela disciplina. Nunca assaltava o mesmo castelo na mesma semana, e tinha um mapa muito bem estudado, com as fraquezas de cada fortaleza dentro da sua cabeça. Saía sempre antes de se tornar irremediavelmente importante nas suas vidas, e tinha-se como santo redentor de corações acabados. Nunca se deixara envolver o suficiente para que se lhes pudesse chamar amor. Mas tratava-as todas com o mesmo respeito e delicadeza tal jardineiro velho num jardim de rebentos novos.<div>
<br /><div>Maria aconteceu depois, bem depois. Estava já ele agarrado aos seus raros cabelos negros como alcatrão, e os sapatos gastos de tanta dança. Maria, singular, estonteante, de labios carnudos e doces num eterno tom avermelhado, pernas majestosamente altivas de atleta olimpica e silhueta perfeitamente recortada a bisturi cirúrgico, apareceu num fim-de-semana que se escapa no tempo.</div></div><div>Sem avizar, e por entre as garfadas num bolo ao pequeno almoço, no hotel mais caro da cidade, os olhos dele choveram entre os ombros da delicada face de Maria. Naquele preciso instante ele realizou que a tinha que vencer. Era a mulher mais bela que alguma vez tivera visto, as suas bochechas arrebitadas embalavam o bolo num bailar de cisnes, os seus dentes quase sem se fechar tocavam-se solenes como os grãos de areia na praia, o queixo com uma ligeira cova no meio fazia-lhe lembrar as dunas d'um deserto distante, os seus cabelos encaracolavam-se lançando-se sobre os seus ombros quase que deitados a dormir, das pérolas que tinha como olhos caiam, intermitentemente, fugases e desinteressados contemples sobre a mesa. Nunca um ser se apoderara do seu fitar de tal forma, nunca se sentira aprisionado em coisa tão sublime, fria e terna. Tinha que lhe chegar.</div><div>
<br /></div><div>
<br /></div><meta charset="utf-8"></div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-52721611107724019782010-12-13T03:06:00.000-08:002010-12-14T02:57:28.676-08:00CrestássemosBrincavam com o fogo e dominam-no com uma destreza acutilante. De manhã a meio de um beijo deitavam no chão os trapos e ensopavam-nos em querosene, vestiam-se e saiam para as suas vidas. Ambos fumavam, ambos tinham isqueiros com que acender os cigarros e ambos passavam o dia a brincar com o fogo. Ele animava a praça a meio da tarde com as mais singulares danças de amor por entre linhas de livros e pedras da calçada. Ela por sua vez servia de cinzeiro a doentes alcoólicos, onde estes despejavam as cinzas do passado. Jogavam com fogo.<div><br /><div>Por entremedio de falsos rituais chegava a hora em que se encontravam de novo e, sem grande importância, se acendiam mutuamente sentando-se numa explanada de café. Enquanto ardiam por fora, o miolo, frio, não tardava em arrefecer. Os olhos, fogo, as palavras, fogo, os suspiros, fogo, os dedos entrelaçados, fogo, a distância entre um roçar de palavras, fogo.</div></div><div>O fogo servia-lhes como o quente de uma lareira, uma labareda no mato seco, uma beata acesa num pulmão canceroso.</div><div><br /></div><div>Brincavam.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-76783040742688678932010-12-10T03:35:00.001-08:002010-12-10T04:03:52.118-08:00Caixinha de suspiros<div>Era de noite e a pergunta ficou outra vez agarrada no fundo da caixa, ela olhava-o com aquele sorriso cúmplice à espera do convite, mas ele centrara-se mais uma vez numa tremenda divagação sobre o sentido das coisas em si.</div><div>Enquanto as melgas rodeavam, freneticamente, as lâmpadas na rua à procura de calor, eles iam descendo de mãos quase dadas em direcção ao cais, onde ele a iria ver partir pela terceira vez no espaço de dois meses. Era-lhe sempre difícil a aceitação de uma despedida, ainda que curta, por isso nunca sentiu a força suficiente para deitar aquelas cartas na mesa.</div><meta charset="utf-8"><div>Nunca um livro levara tanto tempo a ser escrito como o dele, nunca uma musa vivera tão longe do seu pintor. O inverno tempestuoso aceitara treguas durante aquele dia e, como tal, decidiram que era altura de sair a correr para fora do ninho.</div><div>Por fim estavam já no cais rendidos e de armas baixas esperando que alguma coisa rebentasse em frente aos seus olhos e os cegasse de vez. O sorriso não lhe abandonaria de vez a cara até que ela estivesse dentro do barco, até lá a esperança do convite vivia. Ele ainda diletanteando em cima das palavras, mantinha um discurso fugidio e cauteloso que, pé-ante-pé, não tinha falha alguma.</div><div>Ouviram o gritar da campainha que abria as portas a mais uma viagem, e enquanto se namoriscavam com os olhos o tempo ia-lhes fugindo esgoto abaixo. Gostei de estar contigo, disse-lhe ela por entre um abraço terno. Acho que devia-mos repetir, lançou ele por entre os dentes. Foi um adeus solto no fim dos dedos.</div><div>Na sua cabeça repetidamente rugia a palavra: fica comigo.</div><div>Eram só palavras.</div><div>E ela nunca ficou.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-12137453770835887752010-12-09T03:39:00.000-08:002010-12-09T03:59:25.584-08:00Silhueta decotadaSabes, foi no teu arquear de costas que nasceu o mundo, foram nessas linhas finas, que descem a tua cinta recordada, que escorregaram os meus dedos que nem lápis de carvão doce.<br />Foi sempre assim que se te desenhei as costas, com isso e com os pedaços soltos da minha saliva a escorrer-me a língua e que te cravaram os ossos à pele.<br />É quando a borracha teima em apagar esse desenho que se soltam infinitos foguetes a gritar por ti, pela tua face, pelo teu perfil decotado, pelos lisos centímetros da tua silhueta.<br />Sabes, nunca é na cama que morre o sonho, nem no fundo da garrafa, nem mesmo no fim da noite. <br />É no acordar.<br />Em ti.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-19247644456626519572010-11-29T02:22:00.001-08:002010-12-09T02:55:44.802-08:00Meias cheiasHoje não te quero ver estás vazia, sabes bem que não gosto de te visitar vazia. Hoje só de pensar em entrar em ti, vazia, davam-me voltas á garganta, fui por isso errando entre as paredes da pequena Lisboa.<br />Andei ao encontro das tascas que, cheias, me mantinham o mais longe do teu vazio. A tua falta de tudo era o meu nada.<br />Mais tarde passei pelos escassos bares procurando antigas companhias, novas caras ou até mesmo aquelas para as quais é difícil parar a olhar.<br />Já bebido e muito esquecido, voltei para ti. Ainda que vazia eras a única que tinha o jeito de me abrigar.<br /><br />Hoje não te vou querer ter, és vazia.I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-28367219499149891582010-11-22T09:25:00.000-08:002010-11-22T09:27:25.660-08:00Teia minha<meta charset="utf-8">"Sinto que no fim vou ficar contigo és tudo o que eu quero, mas por agora não te posso ver nem pintado."<div>
<br /><div>Foram estas as escassas palavras que se enrolaram em torno das suas orelhas e lhe aprisionaram a cabeça. A partir desse instante as longas e espessas teias foram lançadas debaixo dos pés, os movimentos, quando existiam, serviam só para o embrulhar no lençol.</div></div><div>Ela tinha jogado todas as cartas, ele ainda meio abananado com os abalos nas fundações parou a olhar para um palacio. Nunca se soube desenmerdar sozinho, pelo menos nunca depois de se ter deitado numa outra cama e desempacotado as meias na mesinha de cabeceira.</div><div>
<br /></div><div>"...és tudo o que quero... mas põe-te nas putas." foi isto que continuou a ecoar dentro da mioleira fria e vazia.</div><div>Decidiu por alguns séculos deitar areia sobre o assunto e deixa-lo junto das conchas, não a viu, não a queria ver, ou pelo menos era isso que queria querer.</div><div>
<br /></div><div>"...no fim és meu..." no fim do quê? Tudo o resto foi um recalcamento estúpido daquele dia e ele não conseguia estar com mais ninguém sem que, numa ou noutra noite, não se aconchegasse mais na teia à espera de ser comido. Ela é maior, ela é sempre maior, ou pelo menos assim o foi.</div><div>
<br /></div><div>No outro dia, assaltando um canto do olho, viu-a esgueirar-se na janela de um carro, acompanhada, como é obvio, pela nova presa. </div><div>
<br /></div><div>"...no fim..." percebeu.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-47421340818872643042010-10-24T19:14:00.000-07:002010-10-24T19:34:17.969-07:00Vai-te FoderTem dormido no sofá a vontade de voltar para a cama onde deitamos os nossos sonhos de criança.<div>Caído no fundo da incerteza certa de não voltar a ter ninguém para enrolar o braço depois de uma noite de sexo cru e duro.</div><div>As almofadas continuam agarradas, cozidas até, aos cabelos arrancados pela força dos dedos.<div>E as lembranças, essas aparecem sem avisar por entre um sonho ou assaltam o pensamento às cinco da madrugada coladas a um fundo de copo.</div></div><div>Com a mais inconstante e invariável fome de um pedaço vão de ti, vai-se tropeçando nos recauchutados momentos da longa avenida.</div><div>O pó, esse é mais que muito, caído nas ombreiras da cabeça escorrendo até aos sapatos entranhando-se nos ouvidos e nos pequenos espaços dos olhos.</div><div>Se não te encontrar hoje agarrando uma garrafa de gin, encontrar-te-ei amanhã numa valeta qualquer a suplicar que te apanhe, aos pedaços, do chão. </div><div>Se os teus olhos não inundarem o fundo da rua para que lá te afogues. </div><div>Então é porque valeu a pena a dissertação do tempo.</div><div>Se eu não te mandar foder da próxima vez que te vir é porque ainda gosto de mim.</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-26662350764096517312010-10-12T09:29:00.000-07:002010-10-12T09:32:10.693-07:00QuemTenho as mãos escassas de beijos<div>abraços rotos que nem redes</div><div>pés bicudos como flechas</div><div>o torço pintado a aguarela</div><div>as pernas são troncos partidos</div><div>cabeça de lata amaçada</div><div>cheio com serapilheira</div><div><br /></div><div>quem sou eu?</div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9056514525665745212.post-87754034217537791152010-10-11T07:33:00.000-07:002010-10-11T08:00:01.629-07:00Os alheios"I've got a broken fucked up heart."<div>Dizia-se por entre os dentes negros de uma vodka preta.</div><div>"You should not be messing around with me, unless you meen it."</div><div>Estava ciente que a bebedeira era já muita, sabia também que estava ligeiramente sóbria pra saber aquilo que dizia. Saia-lhe da boca com tal sinceridade que doía.</div><div>"For me, i just don't care anymore, im just sick of feeling lonely anyway..."</div><div>É certo que assim que mergulhasse seria uma caída vertiginosa num poço sem fundo, mas até esses têm paredes.</div><div>"Are you really willing to lose it all for just a taste?"</div><div>Foi-se jogando este jogo por mais de dois meses, entre bares e jantares, nas mais lindas zonas da cidade.</div><div>"I'm really starting to miss you."</div><div>Morria a voz no outro lado da linha.</div><div>"And you know this wasn't suppose to go like this. It will hurt... eventually."</div><div>Foram-se embrulhando as precoces sementes em torno dos pés.</div><div>"Leave her, for me."</div><div>"Please."</div><div>"I'd rather die, than not having you."</div><div>"Hello?!"</div><div>"Are you there?"</div><div><br /></div><div><br /></div><div>Já não estava.</div><div><br /></div>I am a liarhttp://www.blogger.com/profile/02785438941096388159noreply@blogger.com0