domingo, 12 de setembro de 2010

Caixa de musica

Dançavas que nem menina velha entornando certezas nos olhos de quem te mirava.
Pé ante pé lá iam as tuas ancas, saltando de quadrado em quadrado, conforme o som da melodia que pairava no ar como facas nos ouvidos.
Os cabelos, como lençóis de seda amassada, cobriam-te os ombros quando a tua cabeça se extasiava a contemplar o resto da sala.
Desconexas também as minhas pernas começavam a mexer em direcção ao abismo do teu bailado.
Os olhos como pérolas vermelhas incendiavam tudo em que tocavam, e os meus caiam repetidamente na timides fingida do teu notar.
As mãos, pequenas, esvoaçavam pelo imenso mar de roupas e iam-me atirando a favor das tuas.
Os constantes tumultos nos altifalantes do céu já não valiam ouro, ou prata, valiam pelos corpos que se juntavam.
O licor que fazia pesar os abraços foi d'um só trago, e os braços corriam tenues as montanhas na tua silhueta.
Soltaram-se por segundos gemidos de euforia, enquanto as mãos tacteavam com as pontas cruas dos dedos as orelhas, e atracavam sem dó nas cordas dos cabelos.
O doce da tua lingua é veneno nos labios, e a caixa fechou.

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