quarta-feira, 28 de julho de 2010

a Garra

Acabaram-se as moedas, meu amor,
já não podes ganhar mais.
A maquina deu-te tudo o que tinha,
a garra que te ofereceu o buraco do meu peito estragou-se.

Arruinamos devagarinho o fruto
que se ia compondo entre nós.
E tudo ás voltas,
porque não queres,
e tudo fica,
porque não vou.

Em cima do chão,
os botões quinados.
Na face da faca,
a mão.

Não sei.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tudo isto e um muito nada

Não estás, e como tu também não ficou a ponte que me leva a ti.
Ao que parece não aguentou o peso de uma só folha.

Incapaz de ir, quedado nas mentirosas pedras da calçada soltas pelos teus saltos.
Sempre questionas-te o meu olhar por ti, sempre inábil em agarrar os abraços soltos, espalhados.

Menina, agora o que resta são as lembranças do teu suor a escorrer-me na língua, do teu pequeno lago no umbigo após maratonas nocturnas, das minhas costas rasgadas pelo verniz roxo, as lembranças dos lençóis ensopados em álcool e a madeira a cravar-se nas mãos, só restam as cinzas que caíram do cigarro e se colaram ao tecto.

Tudo isto e um muito nada.

Leva-me

Quando a ideia é cravar as garras no meu lombo
e arrancar, à força, o tempo em mim, és mestre.
Se pra mostrares o que sou tens que cuspir para o céu,
então enche-o de nuvens.
Sempre valeu a pena tomar banho no alguidar ferrugento?
E sangrar dos pés?

É ou não difícil crescer ouvindo quem te rodeia?
Se pudesse tapava as orelhas com mil almofadas.

Leva-me de volta ao ninho.

domingo, 25 de julho de 2010

Sal grosso

Reflexos da tua pele nua caminham ao meu lado, nas folhas do jardim.
Pensava já as ter podado no verão que passou.
O que o vento não leva fica no chão à espera que o apanhes, e tu nem te baixas.

Sabes, quando era pequeno a minha mãezinha dizia-me, não batas nas meninas que elas são frágeis. Só que depois daquele espelho partido não consegui parar de te bater. Sabes que sou fraco de mais, sabes que não suporto que me olhes dessa maneira, sabes-me mas não te importas e continuas a olhar-me com o mesmo ar de boneca.

Nunca digas nada de que te arrependas, nunca faças nada que não gostes, nunca fodas com quem já te fodeu.

A brisa que te leve pra longe de mim, por estradas rectilíneas e que nunca cá passe outra vez.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Na rega das flores ele é rei.

Peças de um sonho perdido afogam palavras doces de manhã.
Foram estas as mãos que agrafaram a almofada à cama com uma face pelo meio.

Quando as pernas pararem de mexer, só quando as pernas pararem de mexer.

Conhecia bem a técnica, já não era a primeira vez.

Tudo tem um inicio e um fim, pelo menos é o que os livros nos contam.
E o fim de todas elas era a valeta, depois de uma noite de sonhos mais que grandes.

Nunca foi capaz de alimentar uma flor por mais que uma semana, não ganhara forças nos braços para o regador na altura certa. E elas não tinham culpa, pois cresciam onde quer que fosse, e brotavam no seu jardim inconscientes.

Uma tulipa depois de cortada dura uma semana, ele mato-a em 3 dias.

domingo, 4 de julho de 2010

Hoje é dia de não querer ninguem

Hoje é manhã no meu quintal e eu não quero ninguém.
Não te quero a ti amor, não quero o João nem a Maria, podem todos desaparecer da minha vida por um dia.

Hoje é manhã no meu jardim e não quero ninguém.
Não quero as pétalas das rosas caídas sobre o alpendre, nem os espinhos das silvas que me agarram as calças, não quero regar as tulipas que rasgam o chão, podem todos murchar ou morrer até, hoje não.

Acordei a sentir a tua falta outra vez, já te tinhas levantado à muito, uns dois meses.
Normalmente consigo gerir o que sinto enfrascando-me em vinhos vários, mas hoje apertou-me invulgarmente.
Acordei a pensar que não preciso de ti para nada, que, eu mais eu é só o que importa.
Acordei e apetecia-me ter morrido durante o sono.


Hoje é noite no meu amor e eu não quero ninguém.
Amanhã és tu.