quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sabotada

Enfia o orgulho no cu e toma lá esta merda. Se ficares pois bem, se te fores tanto melhor, já não me interessa.
Não te devias ter metido com aquele gajo sabes bem disso.
Arranjas desculpas para tudo cada uma mais puta que a anterior.
Sabes perfeitamente que nunca te quis magoar, e estúpida foste tu em teres fodido com quem não devias.
É claro que não gosto de ti, como é que podia gostar de ti ao fim deste tempo todo, depois desta merda toda?!
A minha mãe não tem culpa nenhuma desta merda por isso não levantes esse pó.
É claro que as tuas desculpas não chegam, nunca chegaram, não devias ter falado àquela gaja, ela já não me era nada.
Se mexeste na merda e ela cheirou mal a culpa não é minha, se a merda te rebentou no focinho azar o teu.
Não, não, quando estivemos os dois metidos nisto estava silêncio, tu é que vieste com a tua mania de espalha brasas.
Agora para de falar e leva esta merda daqui para fora, já não posso com este cheiro.

Pegou no braço da criança e deixou a porta fechada atras das costas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vigesimo Oitavo Grau

Dos seus labios sai uma lingua que em muito difere daquela que se fala naquele cantinho de mundo.
Nos seus olhos as memorias de diferentes historias de diferentes países sempre com o mesmo fim, a mudança.
Conhecera-a como a muitas outras numa noite solitária sob as luzes quentes de um bar da baixa.
Por entre copos de uisque e margaritas foram pecando palavras pelos degraus das escadas, e foi-se perdendo a eloquência no olhar.
Lá dentro ainda dançaram ao som d'um disc-jokey desajeitado, antes de tropeçarem os pés para fora da rua vazia.
De mãos enlaçadas andaram, sem eira nem beira, por entre paredes das casas baixas daquela terra, pintada de amarelo e branco, de estendais rasos.
Eram 5 horas da madrugada e a lua ameaçava deitar-te numa planicie apinhada.
Estavam dois corpos por de baixo da alçada de uma porta agarrando a fechadura com a força de mil amantes sedentos.
O portal abriu-se, as escadas rolaram elevando-os, a cama despiu-se violentamente e os quatro braços e as quatro pernas violaram as regras do prazer... depois foi só a mudança, nunca mais se viram.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vigesimo Grau

Rainha de dentes de leite,
tu que nunca sentiste o calor
quente de uma boca
junto dos teus cabelos puros,
a tua mão que nunca passou
pelo peito forte de um guerreiro
e o teu cheiro
que nunca impregnou outros lençóis
que não os da tua cama.

Deita comigo,
nesta noite fria,
o fino véu das tuas vestes.

Não sou guerreiro,
sou simples mendigo de pele nova,
deleita o teu doce corpo junto ao meu e
deixa que o escuro nos esconda
por entre os tecidos crus da carne.

Não, não tenhas medo,
rainha de escassas palavras,
de deixar cair o teu virgem olhar
sobre as peles nuas do pedinte.

Deixa que as línguas nos guiem
por entre os toques dos dedos frágeis.
Permite a entrada
das tropas inimigas,
mascaradas de cavalo de troia,
penetrarem as tuas gigantes muralhas.

E dorme, doce rainha principesca.

domingo, 12 de setembro de 2010

Caixa de musica

Dançavas que nem menina velha entornando certezas nos olhos de quem te mirava.
Pé ante pé lá iam as tuas ancas, saltando de quadrado em quadrado, conforme o som da melodia que pairava no ar como facas nos ouvidos.
Os cabelos, como lençóis de seda amassada, cobriam-te os ombros quando a tua cabeça se extasiava a contemplar o resto da sala.
Desconexas também as minhas pernas começavam a mexer em direcção ao abismo do teu bailado.
Os olhos como pérolas vermelhas incendiavam tudo em que tocavam, e os meus caiam repetidamente na timides fingida do teu notar.
As mãos, pequenas, esvoaçavam pelo imenso mar de roupas e iam-me atirando a favor das tuas.
Os constantes tumultos nos altifalantes do céu já não valiam ouro, ou prata, valiam pelos corpos que se juntavam.
O licor que fazia pesar os abraços foi d'um só trago, e os braços corriam tenues as montanhas na tua silhueta.
Soltaram-se por segundos gemidos de euforia, enquanto as mãos tacteavam com as pontas cruas dos dedos as orelhas, e atracavam sem dó nas cordas dos cabelos.
O doce da tua lingua é veneno nos labios, e a caixa fechou.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Parabéns

Já começaste a ganhar cabelos brancos, Mãe,
E por mais que os tentes esconder eles são teus por direito, Mãe,
Vai haver um dia em que te vou dar a mão na rua como quando era pequenino, Mãe,
Nessa altura vou já ser um menino grande e tu pequena, Mãe,
Vou dar-te a mão da mesma forma que tu me deste a tua, Mãe,
Nesse tempo para evitar que fugisse, Mãe,
Também eu vou evitar que fujas, Mãe,
Quando todo o mundo se quiser livrar de ti, Mãe,
Vou ajudar-te com o peso da tua mala, Mãe,
Com o peso da tua sábia idade, Mãe,
Vou olhar-te com os mesmo olhos de quando me viste pela primeira vez, Mãe,
De quando, com as lagrimas a correr-te as faces, viste nascer o teu primeiro filho, Mãe,
Vou abraçar-te com a mesma intensidade com que tu me embrulhaste nos teus braços quando algo corria mal, Mãe,
Vou beijar-te o rosco e acariciar-te as bochechas mesmo quando não me pedires, Mãe,
E vou lutar, Mãe,
Vou lutar para que tenhas de mim tudo o que de ti tive, Mãe,
Carinho, Mãe,
Compreensão, Mãe,
Afecto, Mãe,
Amor, Mãe,
Paixão, Mãe,
Cumplicidade, Mãe,
Ajuda, Mãe,
Todo o mundo, Mãe.

Conto Omisso

Queres-me não queres?
Que posso eu responder-te?
Eu sei, está na tua cara.

O som alto da musica rasgava as colunas e enchia os espaços por entre todos corpos perdidos.

Sabes que não posso, certo?

Agarrou-a pela mão e envolveu os braços em torno do seu tronco juntando, violentamente, os seus labios aos dela. Não se soltaram senão uns minutos depois.

Não devias, sabes que não posso... não podemos.

Os copos licorosos iam ficando vazios, um após o outro, até ser tocada a ultima musica de todos os dias, até ficarem de novo sozinhos nas vielas.

Estou bêbeda leva-me para tua casa.
Quero foder contigo.
Eu sei, agora cala-te e leva-me contigo.

Tinham o arrependimento previo, da seguinte madrugada, estampado nas faces, mas sabiam que nada mais havia a fazer, a dizer. Ela tinha que o trair, ele que ser traído.
Os corpos se não se usam queimam-se.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Volúvel

Somos uma invariável face da mesma moeda,
e como as moedas tendem em cair com uma delas para cima,
só resta esperar que não sejamos a outra.