segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Teia minha

"Sinto que no fim vou ficar contigo és tudo o que eu quero, mas por agora não te posso ver nem pintado."

Foram estas as escassas palavras que se enrolaram em torno das suas orelhas e lhe aprisionaram a cabeça. A partir desse instante as longas e espessas teias foram lançadas debaixo dos pés, os movimentos, quando existiam, serviam só para o embrulhar no lençol.
Ela tinha jogado todas as cartas, ele ainda meio abananado com os abalos nas fundações parou a olhar para um palacio. Nunca se soube desenmerdar sozinho, pelo menos nunca depois de se ter deitado numa outra cama e desempacotado as meias na mesinha de cabeceira.

"...és tudo o que quero... mas põe-te nas putas." foi isto que continuou a ecoar dentro da mioleira fria e vazia.
Decidiu por alguns séculos deitar areia sobre o assunto e deixa-lo junto das conchas, não a viu, não a queria ver, ou pelo menos era isso que queria querer.

"...no fim és meu..." no fim do quê? Tudo o resto foi um recalcamento estúpido daquele dia e ele não conseguia estar com mais ninguém sem que, numa ou noutra noite, não se aconchegasse mais na teia à espera de ser comido. Ela é maior, ela é sempre maior, ou pelo menos assim o foi.

No outro dia, assaltando um canto do olho, viu-a esgueirar-se na janela de um carro, acompanhada, como é obvio, pela nova presa.

"...no fim..." percebeu.

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