quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Márcia

Hoje quero não gostar de ti, desligar aquele botão onde tropeçaste sem querer e acendeu a luz do quadro. Não ter que me preocupar se á noite a colcha não foge do teu corpo frágil de criança, ou se estas sozinha na cama. Quero não saber de ti, ou se pensas em mim com a mesma intensidade e constância. Quero fugir livre e nua pisando os fetos partidos no chão, sentir o frio das pedras a rasgar-me a sola dos pés enquanto tu estas longe daqui. Boicotar-te dentro de mim para que não saias ca pra fora, fechar a porta as tuas lamurias e birras feias que te toldam os olhos e te avemelham o nariz. Cortar-te a mão que me agarrou pela primeira vez por entre as pernas e me fez soar de prazer, e morder-te os dedos que entraram dentro de mim até conseguir sentir a minha boca vermelha. Hoje não quero ser tua, nem que tu te atrevas a telefonar-me com facas na língua. Hoje quero dormir ate fazer doer os olhos, e acordar num depois de amanha onde tu estas, quieta, pequena e nova pra mim. E quero que voltes a ser eu enquanto adormeci. Hoje quero não voltar a tropeçar no botão que apagou a luz e nos deixou ás avessas no escuro.

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