quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eterno

É sempre tão efémero,

o tempo que te penteia os cabelos,
as tardes mortas no sofá,
a manta por cima do aquecedor
e o quente no fundo da pipa.

a mão quieta dentro do bolso
a agarrar no bilhete de metro,
e o caminho para tua casa
que passa por todas as linhas.

as faíscas no topo do eléctrico
no final da tarde fria,
o cachecol envolto ao pescoço
os solavancos frenéticos dos carris.

o sabor da pastilha nos dentes
antes de te beijar a boca,
e o formigueiro nas pernas
quando te vejo ao chegar.

o olhar que deitas sobre mim
quando os nossos corpos não se levantam,
e a tua voz do outro lado do telefone
que me deixa esvaída em sangue.

o sentir que posso sentir-te
eternamente dentro de mim,
e que, para tudo o que venha
estás de pedra e cal.

o hoje da chuva
o amanhã do sol,
e o nevoeiro dos entretantos
que toldam a visão algemada.

e é sempre tão eterno.

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