segunda-feira, 13 de junho de 2011

Imaginarium I

Era uma vez um menino, que como todos os meninos, era pequenino.
Certo dia enquanto brincava com os bonecos velhos e viciados da sua infância deparou-se sentado a olhar para o outro lado da grande vedação do seu jardim. Do outro lado haviam muitos outros meninos e meninas, que brincavam a jogos de imaginar, sem bonecos, nem carros, nem caminhos viciados, e então deu por si a pensar.
"Porque é que aqueles palermas estão a brincar com as mãos no ar, aos saltos e aos pulos, sem brinquedos de verdade?" não percebia.
Voltou-se a brincar com os seus brinquedos de brincar, no mesmo girar e girar.
Numa outra altura veio a embater, na sua vedação, um dos meninos, e ele apressou-se a perguntar.
"Porque é que estão a brincar sem brinquedos de verdade?"
"Isto são brinquedos de verdade, ora essa!" respondeu o outro.
"Se são de verdade porque é que eu não os consigo ver?"
"Tens de semi serrar os olhos, e pensar com muita força, para isso acontecer."
O menino pequenino não percebeu nada do que o outro lhe tinha dito, ainda assim abanou com a cabeça.
No dia seguinte, na hora de brincar, juntou a cara à vedação e olhou para os outros meninos a imaginar, cerrou os olhos com muita força que quase não via nada, e não viu mesmo nada. Chateou-se e foi brincar, com os seus brinquedos de verdade.
À noite não conseguiu dormir a pensar com muita força.
No dia seguinte, depois de estudar, foi para o jardim tentar brincar mas não conseguiu, os bonecos estavam a ficar velhos e já não faziam nada de novo, seguiam sempre no mesmo caminho.
Aborrecido sentou-se junto da cerca a ver os outros meninos a fazer o jogo de imaginar.
"Que tolos" pensou ele.
"Como é que conseguem ver com o que é que estão a brincar se não têm nada nas mãos?"
Então, irritado, cerrou de novo os olhos com muita muita força e começou a pensar. Subitamente como que por magia pareceu-lhe ver uma imaginação, e abriu a boca incredulo. Mas no momento seguinte desapareceu.
"Acabou o tempo, volta pra dentro" Ordenaram-lhe, e ele com muita pouca vontade lá foi.
Passou os seguintes três dias enfiado com a cara na vedação, olhos semi cerrados e a pensar com toda a sua força, até conseguir ver com toda a certeza as imaginações dos outros meninos.
Foi então que pensou imaginar brinquedos como os deles, para poder brincar no seu parque de verdade.
Cerrou os olhos e pensou. Nada. Cerrou com mais força e pensou ainda mais. Nada. Não se deixou vencer e fechou ainda mais os olhos e pensou ainda com mais firmeza. Mas não viu nada.
"Porque é que não consigo brincar com brinquedos de imaginar?" pensou com uma tremenda frustração.
Então realizou que, provavelmente, seria por não ter com quem imaginar.
...

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