quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Londres Velho

Nunca sei o que responder quando pedes pra ficar mais um pouco.
Era já tarde e o comboio dava o ultimo aviso de querer abandonar a gare, agarravas-me a mão com força pois sabias que nada mais de nós havia ou poderia haver, alguma vez.
Eu deixava-a no sitio sem te dizer que o que mais queria era abandonar aquele lugar e nunca mais olhar para trás, nunca mais pensar no que aconteceu ali.
Tinhas apenas 20 anos e foi a tua boca vermelha que me seduziu naquela noite, foi com aquele segredo que me contas-te ao ouvido que me fez querer levar-te até à porta daquele maldito hotel.
A noite ainda era uma criança, tal como tu e o nosso amor, e fizeste uma oferta que não pude recusar. "Só uma noite, uns copos de uísque que aquece os corpos, uns pós brancos." Só quisera pensar em sair dali após 2 dias, após 48 horas de uma intensa ilusão sóbria.
Começaras agora a faculdade e os olhos brilhavam com aquela vontade jovem de querer aprender a entrar no mundo dos velhos. Nenhum de nós queria saber o que vinha a seguir do que vinha a seguir.
Foi só no meu ultimo dia em Londres que te contei que tinha uma vida em Portugal, uma vida. Eras tão pequena e só agora iniciavas a tua e eu não queria fazer parte dela. Foram duas semanas em que me esqueci de que existia para alem de mim, um outro, uns e outras, e só agora acordara do valente sopro que me rebentara na nuca.
Não te chorei quando o fumo começou a sair, quando o sopro feriu o ultimo apito, não te beijei nem tão pouco te toquei, fiquei somente a olhar para a tua expressão nula e o teu contentamento apagado.
Adeus Anna.

Chegara por fim a casa e, pelo chão de tábuas velhas, alcançara a banheira morna, fora o ultimo banho que tomei antes de deixares de existir.




(Um beijo na nuca antes de adormecer.)

Sem comentários:

Enviar um comentário